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Discurso da Oradora da Turma PLP 2013

Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2014

Boa tarde a todas, boa tarde a todos.

Sejam bem-vindos.

Estamos aqui nesta tarde, que para nós é muito significativa, para comemorar a formatura do 11º Curso de Promotoras Legais Populares, turma "Cora Coralina".

Embora com o coração apertado, esta é a hora de colocarmos em prática tudo o que aprendemos neste ano, a hora de multiplicarmos o nosso conhecimento, passarmos adiante a experiência adquirida em cada aula, em cada estágio e em cada visita que fizemos. Visitas que nos inspiraram a não desistir do curso e nem da luta diária que travamos pelo simples fato de sermos mulheres. (E quando a mulher luta, incomoda né?)

A maioria de nós desconhecia o trabalho do Plenu com as Promotoras e talvez algumas não deram créditos ao curso, mas eu acredito que aqui estão as mulheres que deveriam. Só ficaram as mulheres que precisavam de alguma maneira passar por esta experiência. Quem sabe a hora das que desistiram ainda não chegou... Mas nós que permanecemos estávamos na hora e no lugar certo, porque nada acontece por acaso.

Muitas das minhas colegas de curso tiveram um motivo muito forte para chegar até aqui, mesmo com todas as dificuldades que todas nós tivemos que passar neste ano de 2013, aqui estamos, encerrando e ao mesmo tempo iniciando uma nova etapa.

O curso de Promotoras Legais Populares é muito libertador. O fato do curso ser exclusivo para as mulheres é uma vitória tão grande que, como integrante do movimento feminista, eu tenho desejo que TODAS as mulheres façam este curso. Ele é rico, ele abre a nossa mente, nos fortalece, preenche um vazio que às vezes nem nós mesmas sabemos que existe em nós. Enfim, é uma arma a mais para nos empoderar contra o patriarcado.

O patriarcado que é o culpado pela violência sofrida por nossas mulheres e meninas todos os dias, em todos os lugares.

O culpado por matar nossas mulheres. Por quê? Porque elas fazem sexo?

O culpado por julgar a nós, mulheres, pelas roupas que vestimos, pelo jeito que criamos nossas filhas.

O culpado pela cultura do estupro que até hoje culpabiliza a vítima e não o violentador.

O culpado por ser a "favor" das prostitutas, mas contra o seu trabalho.

O culpado por escravizar das formas mais brutais, mulheres e meninas.

O culpado por prender a vítima de violência sexual por medo e deixar livre os estupradores como no caso de Salvador da Banda New Hit, que mesmo sendo comprovada a culpa de seus integrantes, estes ainda estão livres, enquanto suas vítimas vivem enclausuradas no pavor.

Quantas Marias da Penha ainda serão paralisadas?

Quantas Suzanes ainda serão jogadas do 4º andar, como no caso recente em na Vl. Mariana em SP.

Quantas Gianas e quantas Júlias ainda tirarão a própria vida por terem suas fotos íntimas vazadas na internet?

Quantas mulheres ainda serão torturadas e terão seus olhos perfurados, como a Mara Rúbia de Goiânia?

É uma afronta termos uma lei tão significativa e completa como a Lei Maria da Penha e não termos quem a faça valer.

Chegamos ao cúmulo de ouvir de um Defensor Público que a Lei Maria da Penha é desnecessária, que toda ela já consta na Constituição e no Código Penal.

Pra quem podemos pedir socorro se a Rede de Atendimento à Vítima de Violência Sexual não funciona como deveria? Já não basta viver com medo de andar nas ruas, ainda temos que viver na dúvida se a rede que existe para andar de forma concisa deixa a desejar no atendimento e acolhimento das mulheres vitimizadas?

Como podemos fazer valer a Lei da Deputada Federal Iara Bernardi que dispõe sobre o atendimento OBRIGATÓRIO e INTEGRAL das pessoas em situação de violência sexual?

É por isso que estamos aqui, nos formando com honra para dar continuidade a esta luta e passar para todas as outras mulheres que nada do que fizermos será em vão. Pode parecer difícil, mas não é impossível e com o conhecimento adquirido no Curso de Promotoras Legais Populares, a vontade de militar contra o machismo ganha um grau imensurável.

Pois uma coisa é você ouvir falar da Casa Abrigo, por exemplo, mas outra é estar lá e ver com os próprios olhos a tristeza, decepção e sofrimento no rosto das mulheres que têm que abrir mão da sua liberdade para salvar sua vida e de suas crianças. É o olhar perdido no vazio, a dúvida em tantas questões sem respostas. É um estar sem sentir e a incógnita pelo dia de amanhã.

E quanta violência comete aquele que deveria ser o herói de nossas crianças!!!

Agradecemos a todas e a todos que nos ajudaram e nos receberam.

Nossos agradecimentos a todos os palestrantes, que nos mostraram pontos de vista completamente diferentes do que é veiculado na mídia. Ou seja, a verdade.

Muito obrigada a toda coordenação do Plenu, que trabalha incessantemente nos bastidores para nos oferecer tudo de maravilhoso durante todo o ano.

Nosso agradecimento especial à Néia que nos carregou no colo durante todos esses meses com uma paciência que somente quem tem muito amor pelo que faz consegue.

À Rosângela do Momunes que é um exemplo a ser seguido.

Um grande beijo à Tânia Baccelli, seja muito bem vinda.

E obrigada Plenu, por nos trazer uma mulher que é referência, Amelinha Teles, uma vencedora que nos ensina com seu exemplo de vida a jamais desistir da vida e da luta a favor das mulheres.

Eu deixo aqui, em nome de todas as Promotoras deste ano, o nosso muito obrigado por nos fazer enxergar além da nossa sala de estar.

Fonte: Simone Novaes Araújo



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