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‘A gente vai resistir’, diz novo campeão da igualdade da ONU

Em entrevista à campanha da ONU Brasil Livres & Iguais, o cantor e compositor recifense Johnny Hooker fala da importância da arte para a transformação da sociedade e para o respeito aos direitos da população LGBTI no Brasil.

Quarta-feira, 06 de Junho de 2018


‘A gente vai resistir’, diz novo campeão da igualdade da ONU

"No que concerne à natureza humana e aos sentimentos humanos, nós somos todos iguais. A arte tem esse poder de comunicar e fica muito mais fácil para as pessoas que são de fora da comunidade LGBTI se identificarem, verem que somos pessoas, que não existe uma parede dividindo a gente", disse. Leia a entrevista completa.

No Dia Internacional de Luta contra a Lesbofobia, Homofobia, Bifobia, Transfobia e Intersexofobia, lembrado anualmente em 17 de maio, o cantor e compositor recifense Johnny Hooker recebeu o título de campeão da igualdade da Livres & Iguais, a campanha da ONU pela igualdade de direitos da população LGBTI.

Na sede das Nações Unidas no país, em Brasília, Johnny conversou com a Livres & Iguais sobre sua história pessoal, sobre direitos humanos e expectativas para seu trabalho como campeão da igualdade.

Livres & Iguais: Como foi para você a descoberta de que fazia parte da população LGBTI?

Johnny Hooker: Descobri bem cedo. Com 5 ou 6 anos eu já tinha uma noção de que era diferente, de que não me encaixava no mundo que passa na TV, no mundo da maioria. A descoberta e o empoderamento em relação a ser uma pessoa gay veio na fase da adolescência e da vida adulta. Eu tive muita sorte de ter sido criado em um ambiente artístico e libertário, tive pais artistas. Enquanto eu era criança, convivi com as diferenças e com a diversidade dentro da minha casa. Então, eu sabia que não era o povo da TV, mas sabia que eu tinha um lugar e que existia um lugar para a gente no mundo, que estávamos em todos os lugares.

Livres & Iguais: Para a sua arte e para você como artista, qual é a importância de ser LGBTI e de não desempenhar papéis de gênero tradicionais?

Hooker: Ser LGBTI e ser nordestino são duas coisas indissociáveis no meu trabalho, não dá para separar. Isso faz parte da minha identidade de uma maneira muito profunda, e é claro que isso se reflete na minha arte, no meu trabalho e na minha vida.

No momento em que estamos vivendo, um momento de retrocessos, um pouco obscuro, de fundamentalismo e de muito discurso de ódio, é muito importante que a questão do gênero e da identidade de gênero esteja sendo promovida, pela mídia, por organizações como a ONU, por artistas. Agora, a gente se depara com uma geração inteira de artistas LGBT no Brasil, da nova música brasileira. É fundamental que essa conversa seja posta na mesa e que mais artistas falem sobre isso e que o tema ganhe também respaldo nas políticas públicas.

Livres & Iguais: Por que a visibilidade de pessoas LGBTI nos mais variados espaços da sociedade, inclusive como artistas, é importante?

Hooker: A arte tem um papel fundamental de transformação e de injeção de consciência política e dos direitos humanos das pessoas. Ela tem a qualidade da universalidade, de ser universal. Quando um artista gay ou uma artista trans fala sobre o amor e o afeto, qualquer um pode se conectar à humanidade desse amor e desse afeto. Isso gera uma equidade, de humanidade mesmo.

No que concerne à natureza humana e aos sentimentos humanos, nós somos todos iguais. A arte tem esse poder de comunicar e fica muito mais fácil para as pessoas que são de fora da comunidade LGBTI se identificarem, verem que somos pessoas, que não existe uma parede dividindo a gente. Nós estamos em todos os lugares. Nós temos famílias, pais, avós. Somos seus vizinhos, seus irmãos. A arte ajuda a explicar isso às pessoas de uma maneira muito emocional e muito direta.

Livres & Iguais: Você acha que a violência e a discriminação contra pessoas LGBTI é uma questão de direitos humanos?

Hooker: Claro, é uma questão direta de direitos humanos. Principalmente no país que mais mata pessoas LGBTI no mundo, e as estatísticas só pioram a cada ano, é urgente que os direitos humanos sejam observados e que seja tomada uma medida a nível governamental. Vivemos um cenário de terror em relação à população LGBTI, não há políticas públicas sobre isso, nem a homofobia é criminalizada. A gente precisa avançar muito nessas questões. Os direitos humanos no Brasil precisam se fortalecer, (precisamos nos) unir em torno dessa causa.

Livres & Iguais: Que mensagem você gostaria de passar para as pessoas sendo agora campeão da igualdade da Livres & Iguais?

Hooker: É uma grande responsabilidade e uma grande alegria ser um dos campeões da igualdade da ONU Brasil. Eu fico muito honrado. É a história da minha vida, dos meus amigos, da minha geração de profissionais e de músicos. É a história que a gente constrói todo dia, fazendo esses shows e essas músicas. É a história da minha mãe, que lutou contra a homofobia. É a história de todos que vieram antes.

A mensagem é a de que a luta contra a LGBTI fobia é todo dia, não acaba. Se eu puder transformar e continuar a transformar as pessoas por meio da minha arte, vou fazer isso para o resto da minha vida.

Livres & Iguais: Que mensagem você gostaria de passar para as pessoas LGBTI?

Hooker: A mensagem que eu quero passar para as pessoas LGBTI no Brasil hoje é a de que, apesar dessa noite que a gente enfrenta, apesar desse momento obscuro que a gente atravessa, existe esperança, existe irmandade, existe acolhimento. Espero estar sempre aqui para acolher e celebrar as diferenças que nos unem, através da arte e da música. A gente vai resistir. Eles não vão vencer.



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